BEM VINDO A
BENVINDO A CARLOS MANUEL SOUND PARTY
Por aqui vão passar as minhas
criações musicais, acompanhadas à viola. São o resultado de momentos de
inspiração e muito trabalho, mas também, de uma busca incessante por novos
caminhos, que levem a efeitos estético-musicais, dos quais se possa dizer e
reconhecer que são meus. Apesar das muitas influências, que sempre nos atingem,
(há quem diga que o homem deixou de ser um animal racional, e passou a ser um
animal simbólico), no entanto, reconhecendo influências do clássico, que foi a
minha formação, também as do jazz, descoberta e paixão posterior, ou até de
músicos em particular, como Caetano Veloso, procuro encontrar o meu universo
sonoro. Não é fácil, nos dias de hoje, ser completamente inovador, mas, não
conheço no panorama musical, quem acompanhe canções à viola solo da forma eu
mostro neste trabalho. Espero que concordem comigo.
COM C
COM C
Com C de cão
ou com C de cadela
eu não quero não
o género feminino prejudicado
humilhado, mal tratado
esquecido, enfraquecido e ferido
nesta canção
com C de Carlos
ou com C de Carla
gente boa é tradução
com C eu chamo voçê
com C eu conto contigo
com C meu coração
com C tu contas comigo
com C se canta a canção
com C de cão
ou com C de cadela
eu sem contradição
é apenas uma graça
que surgiu, que me fugiu
escapuliu, saiu
naquela hora, que embora
finja grande descoberta
é apenas a letra certa
com C de Caetano
ou com C de Caetana
com C de banda Cê
com C eu chamo voçê
com C cuidado e carinho
com C com convém
com C o céu e o caminho
com C cantei, e voçês cantem.
ERVAS
Erva-abelha,
almiscareira, andorinha
castelhana, erva-babosa
erva-benta, Santa-Bárbara, formigueira
novidade, erva-divina
fotossíntesse, fotossincera
fotografia sentida
fotoluminoso dia que espera
atrás da nuvem perdida
o mundo verde o chão segura
teus olhos verdes mulher madura
chão de chás e chamamentos
chama de amor e vida pura
erva-doce, prata, pombinha,
do-orvalho
dos-feitiços, erva-cidreira
erva-turca, canária, fina, loira,
moira
borboleta, erva-galega
erva-santa, Santa-Maria,
São-Roberto
de-trindade, erva-aranha.
DEMOCRACIA CHINESA
O homem velho
que trabalhou nos campos de arroz
de Mao
em Xangai
disse a ele que no Ocidente
o dinheiro manda na política
mas na China a política manda no
dinheiro
democracia chinesa
democracia chinesa
democracia é pão sobre a mesa
democracia chinesa
democracia chinesa
o homem velho
sabia muito, sabia demais
ou não
o que sei
o deputado quer ganhar muito
dinheiro
dinheiro honesto, sem corrupção
tem que pedir demissão.
A canção Democracia
Chinesa, surgiu na sequência da minha viagem à China, onde, entre as várias
pessoas que constituíam o nosso grupo, estava um ex-deputado e ex-secretário de
estado de um governo PSD. Esse senhor, advogado, culto, informado, viajado,
sempre que podia abordava os guias, no sentido de trocarem umas ideias
políticas e saber dos meandros da política e vida social chineses, e, também
não se furtava a acusar a China de estar a invadir o Tibet e de não ser
democrática. A guia de Pequim, uma jovem senhora, ia respondendo como podia,
quando já não podia, calava-se, em sinal de assunto encerrado. O guia de
Xangai, homem velho, experiente, também sabedor das coisas, quando o tal senhor
o abordou com as mesmas questões, o Tibet, a democracia, ele apenas conseguiu
deixar sem resposta, e, julgo que sem pinga de sangue, o nosso colega de grupo
ex-político, com a seguinte frase: "No ocidente, o dinheiro manda na
política, na China, a política manda no dinheiro". Achei genial. É tão
genial quanto verdadeiro. Em casa, pensava muitas vezes nessa frase lapidar, e,
um dia nasceu a ideia da canção. Não será mesmo da vida, dos momentos que nos
tocam de alguma maneira, que a música brota? Na verdade, a moral da história
passa por ser que, se a China não é democrática, o ocidente também não, e eu
estou plenamente de acordo com o que a frase denuncia.
ÁGUA
Água que corre
que cai, que seca
água que pinga
chora, rebenta
água que molha
rega, despenha
passeia na nuvem
debaixo do chão
uma poça de água
represa, ladrão
água que limpa
mata a sede
água salgada
peixe na rede
água que nasce
morre, vai pró céu
passeia na nuvem
debaixo do chão
uma poça de água
represa, ladrão
água na fonte
lago, aqueduto
água é livre
sonho enxuto
água num fio
enchente, rio
mar, oceano
gelo polar
água no copo
para brindar
ADIVINHA
ADIVINHA
Texto de "A República" de Platão
Há um enigma de que um homem
que não é um homem
vendo e não vendo
uma ave que não é uma ave
empoleirada numa árvore
que não é uma árvore
lhe deu e não lhe deu
com uma pedra
que não é uma pedra.
TATTOO
Antes de Cristo eram feitos no Egipto
os povos da Polinésia, Filipinas, Indonésia
e os Maori da Nova Zelândia
tatuavam-se em rituais religiosos
na idade média a igreja católica
considerou o tattoo vandalismo no próprio corpo
o corpo é o templo do espírito santo
o pai da palavra é James Cook
carpa
infinito
Marylin Monroe nas costas
Cristo negro
tigre bebé
caligrafia japonesa
tribal
borboletas
coração, escorpião
cena bíblica
andorinha
arame farpado
carpa cúprica
no teu corpo de bronze
infinito como o meu desejo
fere, a ferida, a vida rói, dói
a arte estanca a dor
ergue um monumento ao amor
Cristo negro
mais negro que nunca
simbolismo sem cor e sem raça
dermopigmentação
a tinta, pinta, o sangue, sai, vai
a arte crava os dentes
nós já somos seres surpreendentes
no século dezanove em Inglaterra
a tatuagem era usada
como forma de assinalar criminosos
no holocausto os judeus eram tatuados
para identificação
na segunda guerra mundial
soldados e marinheiros
gravavam o nome da pessoa amada
na sua pele
no islamismo os sunitas proíbem
os xiitas aceitam
no hinduismo se encoraja
para aumentar a beleza
e o bem estar espiritual
obra de arte viva, temporal como a vida.
DANÇA DOS MUNDOS
DANÇA DOS MUNDOS
Fonte de Trevi
cobra tower
vishnavitas
oásis de Al Ain
Sang Hyang Widhi Wasa
kopi luwak
alexandrita sim
dramyin cham
ema datschi
opala
topázio, turmalina
água-marinha
general sherman
Madagascar
as árvores (loucas) do Yemen
a lua clandestina em meu olhar
que Roma não se afoga no desejo
nem rodas de oração sem rodar
nem andar para trás o caranguejo
a lua clandestina em meu olhar
que Roma não se afoga no desejo
que raíz parece não precisar de
chão
algaroba do Bahrein e a solidão
dança das águas
deserto laranja
rio das pérolas
Rio de Janeiro
arco-íris eucalipto
Filipinas
tigre manso de Chiang Mai
Mahayana, Theravada
Taj Mahal
Abissínia, Pérsia, Abu Dhabi
burj khalifa
Ho Chi Minh
árvores de Ta Phrom no Cambodja
a lua clandestina em meu olhar
que Roma não se afoga no desejo
oliveiras de Noé, cedros de deus no
Líbano
árvores da lua e chankiri tree
a lua clandestina em meu olhar
que Roma não se afoga no desejo
Ksar de Ait bin Hadu, azul tuareg
égif ero fa árvore lenda que
alcança o céu
old tjikko
praça vermelha
floresta vermelha na Ucrânia
jaya sri maha bodhi
figueira
anuradhapura no Sri Lanka
grande muralha
agata musgo
jaspe oceânico
a pedra contém a alma dos deuses
igrejas de Kizhi
Rússia
uma vela acesa por cada estrela
a lua clandestina em meu olhar
que Roma não se afoga no desejo
Pietá, compaixão, rapto de Sabina
esfinge, tanah lot, capela sistina
a lua clandestina em meu olhar
que Roma não se afoga no desejo
que milagre faz correr o rio Nilo
wat arun, templo do amanhecer.
MULHER ÁRABE
para o seu peito
anéis de saturno, minha ilusão
ficariam bem naquela mão
de marfim, que alvura
aquela mulher olhou para mim
seus olhos falavam do orgulho sem fim
na sua cultura
aquela mulher de véu vermelho
que me chamava para falar com ela
pintava um rendilhado
flores no pé delicado
de outra mulher bela
de chapéu direito
vestido chique, muito elegante
a mulher árabe, exuberante
nenhum defeito
naquela praça de Marraquesh
som de ghaitas que encantam cobra
os cavalos, a caleche
ali acreditei na fantasia
que o mundo todo era apenas sobra
dessa alegria
aquela mulher na praia em Dubai
espreitava o sol com olhos de deusa
corpo belo, meu medo
corpo de segredo
misto de ninfa e musa
via o tempo chegar
toda de negro, o mar azul
ali sozinha, relógio de sol
parecia sonhar
mulher assim moderna e sem moda
guardava as estrelas da noite toda
deus lhe pediu para guardar
ela, imóvel, sentada na areia
esperava que o mar
a transformasse em sereia
aquela mulher vestida de branco
naquele dia azul
noiva árabe em Istambul
parecia um turbante
que tinha na cabeça
era tão linda, a tradição
minha alegria, meu coração
a bater depressa
nessa rua estreita pra mesquita
eu nunca vi noiva mais bonita
não esqueci, a sedução
aquela mulher disse que sim
com um sorriso que não tinha fim
tinha uma lição.
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