quinta-feira, 21 de novembro de 2024

BEM VINDO A CARLOS MANUEL SOUND PARTY

BEM VINDO A


BENVINDO A CARLOS MANUEL SOUND PARTY


  Por aqui vão passar as minhas criações musicais, acompanhadas à viola. São o resultado de momentos de inspiração e muito trabalho, mas também, de uma busca incessante por novos caminhos, que levem a efeitos estético-musicais, dos quais se possa dizer e reconhecer que são meus. Apesar das muitas influências, que sempre nos atingem, (há quem diga que o homem deixou de ser um animal racional, e passou a ser um animal simbólico), no entanto, reconhecendo influências do clássico, que foi a minha formação, também as do jazz, descoberta e paixão posterior, ou até de músicos em particular, como Caetano Veloso, procuro encontrar o meu universo sonoro. Não é fácil, nos dias de hoje, ser completamente inovador, mas, não conheço no panorama musical, quem acompanhe canções à viola solo da forma eu mostro neste trabalho. Espero que concordem comigo.


COM C



COM C

Com C de cão

ou com C de cadela

eu não quero não

o género feminino prejudicado

humilhado, mal tratado

esquecido, enfraquecido e ferido

nesta canção

 

com C de Carlos

ou com C de Carla

gente boa é tradução

com C eu chamo voçê

 

com C eu conto contigo

com C meu coração

com C tu contas comigo

com C se canta a canção

 

com C de cão 

ou com C de cadela

eu sem contradição

é apenas uma graça

que surgiu, que me fugiu

escapuliu, saiu

naquela hora, que embora

finja grande descoberta

é apenas a letra certa

 

com C de Caetano

ou com C de Caetana

com C de banda Cê

com C eu chamo voçê

 

com C cuidado e carinho

com C com convém

com C o céu e o caminho

com C cantei, e voçês cantem.




ERVAS



Erva-abelha, almiscareira, andorinha
castelhana, erva-babosa

erva-benta, Santa-Bárbara, formigueira

novidade, erva-divina

 

fotossíntesse, fotossincera

fotografia sentida

fotoluminoso dia que espera

atrás da nuvem perdida

 

o mundo verde o chão segura

teus olhos verdes mulher madura

chão de chás e chamamentos

chama de amor e vida pura


erva-doce, prata, pombinha, do-orvalho

dos-feitiços, erva-cidreira

erva-turca, canária, fina, loira, moira


borboleta, erva-galega

erva-santa, Santa-Maria, São-Roberto

de-trindade, erva-aranha.





    DEMOCRACIA CHINESA



O homem velho

que trabalhou nos campos de arroz

de Mao

em Xangai

disse a ele que no Ocidente

o dinheiro manda na política

mas na China a política manda no dinheiro


democracia chinesa

democracia chinesa

democracia é pão sobre a mesa

democracia chinesa

democracia chinesa

 

o homem velho

sabia muito, sabia demais

ou não

o que sei


democracia sem poluição

o deputado quer ganhar muito dinheiro

dinheiro honesto, sem corrupção

tem que pedir demissão.









     A canção Democracia Chinesa, surgiu na sequência da minha viagem à China, onde, entre as várias pessoas que constituíam o nosso grupo, estava um ex-deputado e ex-secretário de estado de um governo PSD. Esse senhor, advogado, culto, informado, viajado, sempre que podia abordava os guias, no sentido de trocarem umas ideias políticas e saber dos meandros da política e vida social chineses, e, também não se furtava a acusar a China de estar a invadir o Tibet e de não ser democrática. A guia de Pequim, uma jovem senhora, ia respondendo como podia, quando já não podia, calava-se, em sinal de assunto encerrado. O guia de Xangai, homem velho, experiente, também sabedor das coisas, quando o tal senhor o abordou com as mesmas questões, o Tibet, a democracia, ele apenas conseguiu deixar sem resposta, e, julgo que sem pinga de sangue, o nosso colega de grupo ex-político, com a seguinte frase: "No ocidente, o dinheiro manda na política, na China, a política manda no dinheiro". Achei genial. É tão genial quanto verdadeiro. Em casa, pensava muitas vezes nessa frase lapidar, e, um dia nasceu a ideia da canção. Não será mesmo da vida, dos momentos que nos tocam de alguma maneira, que a música brota? Na verdade, a moral da história passa por ser que, se a China não é democrática, o ocidente também não, e eu estou plenamente de acordo com o que a frase denuncia.


ÁGUA

Água que corre

que cai, que seca

água que pinga

chora, rebenta

água que molha

rega, despenha

passeia na nuvem

debaixo do chão

uma poça de água

represa, ladrão

 

água que limpa

mata a sede

água salgada

peixe na rede

água que nasce

morre, vai pró céu

passeia na nuvem

debaixo do chão

uma poça de água

represa, ladrão

 

água na fonte

lago, aqueduto

água é livre

sonho enxuto

água num fio

enchente, rio

mar, oceano

gelo polar

água no copo

para brindar









ADIVINHA



ADIVINHA
Texto de "A República" de Platão

Há um enigma de que um homem
que não é um homem
vendo e não vendo

uma ave que não é uma ave
empoleirada numa árvore
que não é uma árvore
lhe deu e não lhe deu
com uma pedra
que não é uma pedra.





TATTOO

TATTOO

Antes de Cristo eram feitos no Egipto
os povos da Polinésia, Filipinas, Indonésia
e os Maori da Nova Zelândia
tatuavam-se em rituais religiosos

na idade média a igreja católica
considerou o tattoo vandalismo no próprio corpo
o corpo é o templo do espírito santo

o pai da palavra é James Cook

carpa
infinito
Marylin Monroe nas costas
Cristo negro
tigre bebé
caligrafia japonesa

tribal
borboletas
coração, escorpião
cena bíblica
andorinha
arame farpado

carpa cúprica
no teu corpo de bronze
infinito como o meu desejo

agulha, aguça, o aço

fere, a ferida, a vida rói, dói
a arte estanca a dor
ergue um monumento ao amor

Cristo negro
mais negro que nunca
simbolismo sem cor e sem raça
dermopigmentação
a tinta, pinta, o sangue, sai, vai
a arte crava os dentes
nós já somos seres surpreendentes

no século dezanove em Inglaterra
a tatuagem era usada
como forma de assinalar criminosos
no holocausto os judeus eram tatuados
para identificação

na segunda guerra mundial
soldados e marinheiros
gravavam o nome da pessoa amada
na sua pele
no islamismo os sunitas proíbem
os xiitas aceitam
no hinduismo se encoraja
para aumentar a beleza
e o bem estar espiritual

obra de arte viva, temporal como a vida.






 DANÇA DOS MUNDOS


 DANÇA DOS MUNDOS

 

Fonte de Trevi

cobra tower

vishnavitas

oásis de Al Ain

Sang Hyang Widhi Wasa

kopi luwak

alexandrita sim

 

dramyin cham

ema datschi

opala

topázio, turmalina

água-marinha

general sherman

Madagascar

as árvores (loucas) do Yemen

 

a lua clandestina em meu olhar

que Roma não se afoga no desejo

nem rodas de oração sem rodar

nem andar para trás o caranguejo

 

a lua clandestina em meu olhar

que Roma não se afoga no desejo

que raíz parece não precisar de chão


algaroba do Bahrein e a solidão

 

dança das águas

deserto laranja

rio das pérolas

Rio de Janeiro

arco-íris eucalipto

Filipinas

tigre manso de Chiang Mai

 

Mahayana, Theravada

Taj Mahal

Abissínia, Pérsia, Abu Dhabi

burj khalifa

Ho Chi Minh

árvores de Ta Phrom no Cambodja

 

a lua clandestina em meu olhar

que Roma não se afoga no desejo

oliveiras de Noé, cedros de deus no Líbano 

árvores da lua e chankiri tree

 

a lua clandestina em meu olhar

que Roma não se afoga no desejo

Ksar de Ait bin Hadu, azul tuareg

égif ero fa árvore lenda que alcança o céu

 

old tjikko

praça vermelha

floresta vermelha na Ucrânia

jaya sri maha bodhi

figueira

anuradhapura no Sri Lanka

 

grande muralha

agata musgo

jaspe oceânico

a pedra contém a alma dos deuses

igrejas de Kizhi

Rússia

uma vela acesa por cada estrela

 

a lua clandestina em meu olhar

que Roma não se afoga no desejo

Pietá, compaixão, rapto de Sabina

esfinge, tanah lot, capela sistina

 

a lua clandestina em meu olhar

que Roma não se afoga no desejo

que milagre faz correr o rio Nilo

wat arun, templo do amanhecer.









MULHER ÁRABE

MULHER ÁRABE

Aquela mulher vestida de noite
perto do souq em Muscat Omã
lenço nos cabelos
que se adivinhavam belos
como a luz dessa manhã
junto ao mar perfeito
ouro no braço, olhos de mel


a lua cheia, pérola ideal
para o seu peito
anéis de saturno, minha ilusão
ficariam bem naquela mão
de marfim, que alvura
aquela mulher olhou para mim
seus olhos falavam do orgulho sem fim
na sua cultura

aquela mulher de véu vermelho
que me chamava para falar com ela
pintava um rendilhado
flores no pé delicado
de outra mulher bela
de chapéu direito
vestido chique, muito elegante
a mulher árabe, exuberante
nenhum defeito
naquela praça de Marraquesh
som de ghaitas que encantam cobra
os cavalos, a caleche
ali acreditei na fantasia
que o mundo todo era apenas sobra
dessa alegria

aquela mulher na praia em Dubai
espreitava o sol com olhos de deusa
corpo belo, meu medo
corpo de segredo
misto de ninfa e musa
via o tempo chegar
toda de negro, o mar azul
ali sozinha, relógio de sol
parecia sonhar
mulher assim moderna e sem moda
guardava as estrelas da noite toda
deus lhe pediu para guardar
ela, imóvel, sentada na areia
esperava que o mar
a transformasse em sereia

aquela mulher vestida de branco

mãe-de-pérola, toda cintilante
naquele dia azul
noiva árabe em Istambul
parecia um turbante
que tinha na cabeça
era tão linda, a tradição
minha alegria, meu coração
a bater depressa
nessa rua estreita pra mesquita
eu nunca vi noiva mais bonita
não esqueci, a sedução
aquela mulher disse que sim
com um sorriso que não tinha fim
tinha uma lição.